quinta-feira, setembro 30, 2010

Acreditando no futuro

Por: Rodolfo Carreirão

No corre-corre do dia-a-dia muitas vezes não temos tempo para nada, ou praticamente nada. Muitas vezes vamos de um lugar para outro como se tivéssemos sido tele transportados, ou realizamos as nossas atividades de forma mecânica e desatenta. Quem já não se deparou no trânsito dirigindo, falando ao celular, anotando algum recado e com o rádio ligado. Isso tudo ao mesmo tempo, acredite.

Dessa forma quando vamos ter tempo de ser um cidadão completo realizar obras sociais, me preocupar com o bem estar do outro, do irmão e até mesmo com a segurança pública de nossa cidade. Creio que por vezes essa conversa soa como demagogia ou conversa de sociólogo. Que história é essa de pensar no próximo, as pessoas pensam vou fazer o meu e o resto, já disse tudo. É resto. Puxa fiquei quase sem fôlego.

Ainda bem que nem todo mundo pensa e age dessa forma, um exemplo de ser humano e pessoa envolvida e comprometida com o próximo é o padre Vilson Groh. Figura emblemática, conhecida e respeitada na ilha da magia. Cidadão incorporado em diversos projetos sociais na cidade e região de Florianópolis que luta para melhor a qualidade de vida e a segurança dos menos favorecidos.

O padre, ou melhor, o cidadão Vilson é um dos fundadores do Centro Cultural Escrava Anastácia, fundada em 1994 na capela Nossa Senhora de Monte Serrat (o popular morro da caixa) que começou como um grupo em prol da educação, com escola básica, creche e aulas de datilografia para os moradores do morro. A partir dai vieram outros projetos para a comunidade, sempre levando em conta o convívio social e o comprometimento com a entidade.

Um bom exemplo dessa caminhada de sucesso é o programa Jovem Aprendiz do CCEA (Centro Cultural Escrava Anastácia), que busca a capacitação dos adolescentes da comunidade, preparando ele para o mercado de trabalho. O aluno recebe aulas de informática, ética, cidadania relações interpessoais, atendimento e organização no mundo corporativo.

O jovem é inserido no mercado de trabalho através de um estágio em empresa credenciada, com o grande beneficio para empresa uma vez que o jovem já passou por uma formação continuada e monitorada pelo CCEA, a cada quinze dias o aprendiz recebe uma visita em seu local de trabalho, para acompanhar como anda o progresso do “moço” na empresa.

Outro diferencial do programa Jovem Aprendiz, é que além do acompanhamento profissional, ele também recebe acompanhamento escolar, para manter um nível das atividades escolares, ou seja, as duas atividades caminham de mãos dadas, trabalho e estudo, para garantir um futuro promissor para o jovem cidadão.

A importância de contratar o jovem.

A responsável pelo projeto Simone Aparecida Flores ressalta que cada empresa tem o seu ritmo e a sua forma de trabalhar, então quando o jovem entra na empresa já com algum treinamento, é monitorado e vai participar da vida daquela firma, onde ele começa a se sentir valorizado e inserido naquela entidade. Essa atividade em nosso mundo globalizado pode ser chamada também de “trainne”, ou seja, quando o estagiário passa por todos os setores da empresa, e dessa forma aprende todos os meandros da sua vida profissional, lembrou a psicóloga Ciglis Gandin.

Para as empresas o beneficio de participar do projeto vai além de conseguir um funcionário capacitado, tira também o jovem da criminalidade e drogas. A empresa cria um estreitamento de laços e passa a fazer parte da vida não somente do jovem estagiário, mas de toda a comunidade, ampliando a sua responsabilidade social, e o compromisso com a população como um todo.

O vereador que já fez parte do programa jovem aprendiz, lembra aos empresários que apesar da vida agitada e do conturbado mundo dos negócios, é possível sim olhar para os menos favorecidos e ajudá-los a ver não somente uma luz no fim do túnel, mas também um novo dia, quem sabe bem mais belo. “Quando eu era criança eu dizia para todo mundo que seria um maconheiro”, hoje Marcos Aurélio Espíndola, o “Badeko”, 33 anos é vereador em Florianópolis e tem como meta no legislativo fazer projetos de lei que venham beneficiar as comunidades carentes visando sempre a segurança e a educação. Marco Aurélio teve uma infância muito difícil, morou mais de 15 anos no bairro Monte Cristo, onde conheceu de perto todos os problemas inerentes a periferia das metrópoles. Começou a trabalhar muito cedo. Aos 10 anos de idade já vendia ferro velho para ajudar na renda familiar, que era muito baixa. Com 14 anos começou a trabalhar no Diário Catarinense como vendedor de jornais, trabalhou como office boy na Caixa Econômica Federal e aos 18 anos voltou a trabalhar no Diário Catarinense onde continua até hoje na função de produtor gráfico. “A mesma cultura do rico, deveria ser para o pobre” lembrou o parlamentar referindo-se, ao pai que reside na periferia e que não pode levar seu filho em um espetáculo de teatro ou até mesmo em um estádio de futebol devido aos preços elevados dos ingressos. Antes mesmo de entrar na vida pública, Badeko já participava do projeto social, Escolinha de Futebol Filhos da Lua, para crianças de 5 a 17 anos. Hoje são atendidas aproximadamente 300 crianças e adolescentes. Para participar da Escolinha de Futebol é obrigatório ter notas acima da média e freqüência escolar no mínimo de 75%.

Para o jovem Felipe Almeida Soares de 17 anos e morador do morro do mocotó a oportunidade de iniciar as atividades profissionais em uma grande empresa faz toda a diferença, pois cria a possibilidade de crescimento profissional e não deixa que os traficantes tentem aliciarem para a criminalidade . Felipe lembrou que “pra gente que é pobre e mora no morro é difícil conseguir uma chance”. Já para o tímido Plínio Pereira tem que estudar e trabalhar para melhorar de vida.

Atualmente participam do projeto doze empresas, com contratos que variam de um a dois anos de parceria. Para participar dos processos seletivos o jovem deve estar com a sua documentação em dia e ter de 14 a 24 anos.

Dentre as empresas que apóiam o projeto podemos destacar a Rede de Supermercados Imperatriz que renovou o contrato da parceria para colocar mais 60 jovens, que bem breve irão fazer parte do quadro de colaboradores do grupo. Para o gerente de recursos humanos do Imperatriz Márcio Poeta o programa jovem aprendiz está cumprindo a sua meta, que é inserir o jovem na vida profissional e se estabelecer, uma vez que cerca de 30% dos jovens que passam pela empresa anualmente oriunda do programa são efetivados. Além disso, Poeta também ressaltou que: “é um sonho que eles estão realizando, ter um bom emprego, o primeiro salário, o respeito por ser um trabalhador, por ter uma carteira de trabalho assinada, pelo auxilio financeiro que eles começam a poder dar para a família e o orgulho que proporciona para seus pais. O programa Jovem Aprendiz tira muitos jovens das ruas da marginalidade e também das drogas”.

Cultura Alternativa

Para quem não tem nada, um pouco de cultura alternativa cai muito bem. Outro projeto que também merece destaque na comunidade é “O DIA MUNICIPAL DO HIP-HOP”, projeto de lei do Vereador Badeko, que será comemorado todo o dia 12 de Novembro, tendo como objetivo difundir, ampliar e homenagear a prática deste movimento nas comunidades. O Hip-Hop é um movimento cultural de transformação social e de integração juvenil autêntica em todo o mundo, e em Florianópolis não é diferente.

Este movimento é uma ferramenta de inclusão e de prevenção da criminalidade entre os jovens que vivem esta situação de extrema fragilidade social. Hoje, muitos jovens que estão inseridos na cultura Hip-Hop, cultivando a paz nas periferias por meio dos quatro elementos da cultura: MC, DJ, Grafite e B-Boy.

Atualmente, os jovens do movimento Hip-Hop dentro de seus elementos, fazem a discussões de: política, sociologia, cultura, drogas e segurança. Para os adolescentes dentro de suas comunidades isso ajuda a promover a cultura do Hip-Hop, criando maiores oportunidades para todos nós, fazendo uma transformação social, e conseqüentemente prevenindo a criminalidade e influenciando na auto-estima do morador da comunidade que hoje sente dificuldade de ocupar o seu espaço no mercado de trabalho.

Fica aqui o exemplo de todos que estão imbuídos em fazer um mundo melhor, se envolvendo com a causa, antes que ela se torne um problema, propondo educação, trabalho e segurança proporcionando um futuro melhor não somente para o jovem, mas para toda a sua família.

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